Wednesday, September 16, 2009

Miudinho

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Ensonado pelo café que conduz o nervosinho,
deslizo vagarosamente e ouço o burburinho.
Não estou sozinho.
Existo eu, o meu ego e o meu euzinho.
E o bichozinho, armado em poucochinho.
Coitadinho.
Não consigo diminuir mais devagarinho,
nem decantar essa espécie de vinho.
Atrevo-me a sair de fininho,
para não assustar o sonolento vizinho.
E então adivinho!
É como um reflexo espinho
no caminho.
Eu, o meu ego e o meu euzinho,
bebemos e degustamos esse sucozinho.
Doce, amargo, doce e docinho,
com um travo ácido, azedo e azedinho.
Procuro no espaço esse tempinho,
escasso por não ter sentido o nervoso miudinho.

Sunday, September 13, 2009

O que é o Amor?

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Eu sei o que é o Amor…

Sei que é apertado, desfasado, inconstante e soberbo.

É ainda suor, lágrimas e sorrisos… é ritmo desenfreado e batidas

fortes, impiedosas, criadoras de êxtase! É compreender.

É perceber, ouvir sem perguntar e a todo o momento acertar,

sem nunca duvidar.


Eu sei o que é o Amor…

Sei que é livre, descontrolado e impaciente.

É ainda estar acordado num eterno sonho de paixão.

É nunca dizer que não sou capaz, é arriscar e olhar em frente

sem medo do que possa acontecer. É pedir desculpa.

É saber que não faz falta mais nada a não ser o sentimento, o sentir falta

de ti; de estar contigo, e precisar de ti mesmo quando estás aqui bem perto.


Eu sei o que é o Amor…

Sei que é fogo frio e chuva quente, é rio alvoraçado e mar tranquilo.

É ainda o último fôlego de um mergulho cego na escuridão.

É luz que ilumina a noite escura, é manto que protege do frio da madrugada.

É aquele bem-estar dos cúmplices que nada têm a esconder,

dos amantes loucos que gritam o seu sentir para toda a gente ouvir!


Eu sei o que é o Amor…

Sei que é alegria e ânsia de te ver. É saudade e necessidade de te ter.

É ainda derrubar muros que se ergam altos para nos afastar.

É dizer-te que és bonita, dar-te flores ao acordar e beijos ao adormecer;

é nada recear senão perder-te, é em nada pensar senão em amar-te.


Eu sei o que é o Amor!

Sei que não o consigo descrever, mas que tenho de o encontrar…

Sei ainda que nunca poderei desenhar com justiça as borboletas que

insistem em esvoaçar no meu interior quando te vejo ou sinto o teu cheiro no ar.

Sei que não consigo imaginar um dia mais bonito sem ti por perto,

e sei que acerto… quando digo que te amo e não quero saber do resto.


Eu sei o que é o Amor…

(…)

Friday, September 11, 2009

Alucinado

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Estou todo a escorrer, a nadar no suor do tempo

que não passa e se desenvolve tão depressa.

Assim como o raciocinar descontrolado da cabeça,

nas intempestivas considerações fico acabado, fico lento.


Sinto também uma lágrima que me parece de crocodilo,

pois não tenho vontade de chorar, estou inerte, insensível.

Nada do que me agrada consegue ficar, tudo é perecível.

Fico com isto, mas sempre insatisfeito, não quero isto, mas aquilo!


Trabalho para esconder o que me atormenta, sou de pedra.

A lágrima já cá não está e o suor foi-se, repentino.

Tenho tudo dentro de mim e mesmo assim desatino,

A água fura a rocha que a recebe, que de tão furada, quebra.


Termino a sensação alucinado na contemplação de nada.

Grito! Revoltado, por não perceber coisa tão fútil, tão desgastada.

Tuesday, September 08, 2009

Sem ti

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Sem ti…

É como respirar sem fôlego,

não ter ar suficiente para sorrir.

É não ter suporte a que me agarrar

quando o vento sopra mais forte.

Não te ter é como acordar e não conseguir abrir os olhos.

É ficar cego.

É não poder andar um passo de cada vez;

é tentar e não conseguir perceber aquilo que me fez:

Assim, apaixonado.

Sem ti…

Desespero! A brisa matinal não existe,

o crepúsculo é breu, não consigo ver nada.

Tu, que eras a minha luz, agora és a minha escuridão.

E sabes que mais? Os versos não fazem sentido

se não os podes ler. As palavras não têm letras e as

frases não têm ligação. É como escrever para sempre

com tinta invisível. Palavras que se sucedem umas às outras

na folha que no fim… está em branco.

Sem ti…

Uma gargalhada será sempre menos estridente.

O Sol será sempre menos quente.

E a chuva irá sempre molhar-me a mim, esquecendo-se

do resto da gente.

E fico assim, sem ti, não consigo ver em frente.

Thursday, September 03, 2009

Fado

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Ando aos ziguezagues, estonteado, ébrio.

O vinho já fez o seu trabalho e a noite chega ao fim.

Chega também a hora em que te recordo, e como sempre

o alcóol não disfarça o sentimento.

Tenho saudades tuas.

Saudade. Essa palavra que não tem tradução, como o fado.

E que fado é este que me faz saudade, recordação e mais saudade,

outra vez.

E mais saudade, outra vez o fado da saudade.

Dizem por aí que a saudade faz bem.

Mas como pode esse fado ser verdade? Como pode a saudade

ser boa, se sei que não te vou encontrar outra vez?

É este o meu fado?

É esta a minha saudade.

Fado triste cantado pela saudade.