Wednesday, July 29, 2009

Nós

.


Deslizo os dedos lentamente sobre a tua pele de cetim
e sem querer levantam-se os cabelos todos
num arrepio descontrolado.
Todo o teu corpo à minha mercê, todo ele oleado pela vontade e pelo desejo.
Fico molhado devagar, com pausas que criam espasmos de prazer.
Já te percorri em carícias de poeta sensibilizado pela tua beleza.
Estou encantado! Vibro com as tuas curvas de sereia
que me deixam louco de querer…
Tenho de te apertar, perder-me na humidade,
no calor dos nossos corpos encaixados.
E mais um espasmo, e outro! E mais outro!
Todo eu te possuo e juntos cantamos melodias de carne e suor.
Fazemos amor.
E então o nós acontece.
Extasiados pela festa dos corpos em plena sintonia, entramos um no outro
devagar, depressa, devagar, depressa…
Devagar.
Todo eu e tu. Tudo nós. Escorremos de prazer e ficamos
molhados e banhados no suco do amor.
Dançamos mais um pouco, está a chegar o momento…
Todo eu e toda tu.
Estamos lá, no sítio onde não chegaríamos sozinhos.
Abraçados com força, no derradeiro espasmo de nós,
corre o rio que traz gritos de prazer.
E anoitece. Cansados, embarcamos em carícias que suavizam o êxtase carnal.
Chego-te para bem perto de mim, e sempre juntos,
partilhamos o sono dos amantes.

Sunday, July 26, 2009

Sete Pecados

.


Sinto a luxúria apoderar-se de mim.
A avareza controla o meu sentimento de ti.
Quero-te toda, completa, mesmo assim.
Louco de tanto querer aquilo que nunca vi.

Irado como o céu negro em noite de tempestade
recordo os momentos de prazer do passado.
Conto histórias sem nunca dizer a verdade,
chega o fim de tudo o que está acabado.

Então, preguiçosamente degusto o teu sabor
de uva com manga e sabores exóticos.
Fico cheio de frio e completo de calor
assoberbado pela gula de momentos eróticos.

São Sete os pecados de ti, Sete…
e tanta coisa boa que o pecar me promete.

Saturday, July 11, 2009

Sem título

.


Rasgado pela saudade incontrolável
recolho palavras exacerbadas pelo sentimento
e mais uma vez procuro um verso inigualável;
construo a estrofe que desmaia num tormento.

No labirinto rítmico em que me encontro
as notas são dadas pela guitarra do sonhador,
escorrega-me a vírgula, as reticências… e o ponto.
Numa canção de ti eu me torno trovador.

Nota após nota, verso atrás de verso
Toco e escrevo o que me aflige, me preocupa.
Poucas vezes me deslumbro e muitas me disperso
naquilo que tem importância e não se escuta.

Consegues ouvir o meu gritar aí em cima?
Talvez deva cantar mais alto...
Grito e canto e berro mergulhado na bolina
do nunca mais que vejo, do vazio e inútil palco.

Represento a palavra que existe para descrever
o amargo deslize atrofiado pelo tempo.
Rebento de suspeitas que não me fazem querer,
sair do buraco para procurar um novo alento.

E hei-de eternizar a canção de ti, a união separada.
Os laços que se cantaram e como tudo, acabaram em nada.

Wednesday, July 08, 2009

O Ilusionista

.


Ao criar uma ilusão
vou dizendo que sim quando quero dizer não.
Então, acontece uma pequena explosão.
Vê-se fumo branco que enche o momento de completa distorção.
O admirável público começa a sentir admiração…
Uma pequena pausa, não queremos estragar a inquietação!
Cheio de truques na manga disfarço-me de mago, em vão.
Mas não, não! NÃO!
Afinal sou eu o indubitável anfitrião,
Responsável por magicar ilusões para toda a gente neste serão.
É numa noite de Verão;
o calor aperta e faz-me suar de tensão.
O admirável público já não aguenta de emoção!
Qual será o próximo truque, a derradeira ilusão?
Surpresa! Um mago nunca revela a verdadeira situação…
Há que manter a dúvida, não despertar suspeição.
Mais um pouco de pó mágico para aumentar a desilusão
de um espectáculo baseado na sincera contradição.


Quero dizer que não, vou dizendo que sim;
ao criar uma ilusão, o truque funciona para todos, terá funcionado para mim?