Wednesday, December 16, 2009

Memória

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Memória. Pactuar com a reminiscência
invasiva, precisa e descolorida
como a verdade que nunca é querida.
Cisma desprovida de paciência.

Entramos devagar pelas portas do desconhecido
onde grita um mudo de tudo sem alarido.

Contínua… a hemorragia do sentimento atroz,
apaga qualquer resquício de sobriedade.
Sem sombra de luz que ilumina a saudade
agitando a intencionalidade descabida e veloz.

Encontrar o sentido do céu vermelho
que desenha o imprevisto reflexo no espelho.

Ah! E tentar desenhar o invisível
em tela sem fundo e sem suporte,
aproxima-se o azar e afasta-se a sorte
brincando com o sonho indizível.

E narrar os episódios intermédios.
Esquecer todos os delinquentes assédios.

Iludimo-nos em observações vagas
e justos julgamos os jovens aprendizes
que crescem e florescem tentando ser felizes.
Inúteis como luzes rejeitadas e amargas.

Realizamos sonhos fartos de acordar
na pobreza real em que temos de sonhar.

Acende-se uma vela de luz fugaz,
na tentativa de iluminar o sentir desenfreado.
Coração que palpita num bater ritmado
personificando o temperamento do amante voraz.

Uma harpa lança notas agudas na canção do louco,
poeta de mitos e ditos que sabem a nada, que sabem a pouco.

Saturday, December 12, 2009

Defesa

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Não posso falar de tristeza com ligeireza.
Com certeza.
Nem sequer penso em tentar perceber tamanha avareza,
mas assumo as rédeas e cavalgo com destreza.
No entanto, ai de mim! Que o peso que carrego pesa!
É como ser plebeu e andar armado em realeza.
Assim, afundo-me lentamente e fico agrilhoado na profundeza.
Tudo é turvo, não consigo ver com clareza.
E de repente… surpresa!
Mas não, afinal não era a minha princesa…
Mesmo assim, transformo-me e afirmo, com firmeza:
Faço-me Rei num reino de pobreza.
E mais ninguém, senão eu próprio e sem estranheza,
percebe porque jogo à defesa.

Tuesday, December 08, 2009

Eclipse

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Hoje acordei e não vi o Sol.
Decidi esperar pela noite para perguntar à Lua:
Que se passa? Que aconteceu ao Sol?
O Sol ficou triste e deixou de brilhar,
disse-me ela.

Não consigo dormir hoje à noite.

Perguntei a toda a gente:
Porque tinha de ser assim?
Porque não podia ser diferente?
Ao que toda a gente me respondeu:
O Sol não brilha porque não o queres ver brilhar.

Eu respondi a toda a gente:
Não, não consigo ver o Sol…
e não posso viver só com luar.