Tuesday, March 22, 2011

Sem título

Atrofiado com o vazio do tempo
fico prostrado e ouço o som do mar.
É suave e violento, gutural e claro
como neve no topo de uma montanha.
Estou lá, no topo… e observo.
Vejo o tempo passar, passa sem parar
para pensar, porque o tempo não pensa.
Eu é que passo o tempo a pensar nos
pensamentos vazios do passar do tempo.
Vou ficando insensível à intemporalidade
do pensamento.
O mar é o meu modelo.
Posa para mim nu, e deixa-me divagar
sem fazer perguntas, sem ter pressa;
sem provavelmente se sentir observado.
Ou será que sente?
Sinto-me observado! Cada onda que chega
perto funciona como um aviso:
“Tu aí, estava aqui a pensar”.
É majestoso o mar, não é?
Sua majestade, o Mar.
A minha tempestade, o pensamento do mar.
O vazio do tempo que passa.
É grandioso o sentimento que tenho
de não me querer afogar.
Fico a flutuar.

Saturday, March 12, 2011

Beijo

Lembras-te do que te disse a primeira vez que te beijei?
Tive uma enorme vontade de te beijar. “Pois beija-me beijoqueiro,
que eu quero-te beijar”.
Lembras-te dessa noite?
O ano estava a passar e todos estávamos passados,
embriagados com a passagem do ano.
Foi nesse ano que descobri o passar do tempo, foi nesse ano
que aprendi a não dar tempo ao tempo.
Foi quando te vi que fiquei sem tempo…
para respirar! Escondido, observava a naturalidade com que eras,
simplesmente eras.
Tão bonita.
Lembro-me do aroma suave do teu cabelo
quando, sem te aperceberes, o cheirava,
que nem um ladrão que não tem medo de ser apanhado.
Quis roubar esse cheiro e guardá-lo bem guardado.
E perdi-me no tempo a olhar-te.
Tudo em mim eram olhos que te sentiam. O teu olhar, o teu jeito de ser.
Tu.
Foi assim que te olhei, completamente nu.
O tempo passou devagar devagarinho, enquanto
eu cheirava e te olhava com vontade de querer.
Querer querer querer.
“Não posso mais, tenho de me aproximar!
Vou bem perto e roubo um pouco mais de aroma
e talvez ganhe coragem e talvez ganhe um beijo quem sabe.”
Só eu é que sei.
Os versos não chegam para fantasiar aquele momento que me fez sonhar.
Sonhei que éramos nós. Tu e eu unos num beijo perfeito,
sem tempo intemporal. Como se o acordar não existisse.
Agora somos nós, é a nossa vez de sonhar.
Anda, beija-me e vamos juntos sonhar.

Como é difícil esquecer.
Tanto te quis só para tanto te querer.

O adorar-te tornou-se a minha respiração. Respirava-te a cada olhar.
Suspirava por mais um beijo, mais um pouco de perfume,
mais um pouco de nós enquanto nós.
Divagava durante horas à espera de nós.

Tanto esperei e tanto gritei… fiquei sem voz.