Friday, February 25, 2011

Aresta

Abismado com as cores fortes da surpresa
percorro caminhos parcos em beleza.
Sozinho sonho encontrar a mistura…
Que me traga espirros de doçura.

Os lábios adocicados pela promessa
fazem-me correr a tudo sem ter pressa.
Na dúvida dos sabores incertos revelados,
guardo os segredos da luxúria bem guardados.

Depois de muito provar e ser provado!
Provo que reprovo o reprovado.
Aceito o sabor agridoce que se manifesta
sem outro remédio senão fintar a fina aresta.

A pouco e pouco vou aprendendo a lição,
dos dissabores agrestes temperados na desilusão.
Enfrento o muro dos pregos e vidros cortantes
e vou digerindo o que posso e não podia antes.

É como cozinhar debaixo do lume e ser cozinhado.
É como disparar a correr pelo arco-íris e ser rasteirado.

Friday, February 04, 2011

Quadrado Circular

.


Numa esfera quadrada correm as inquietações
do poeta apaixonado. Procura palavras que descrevam
o sentimento que almeja e pensa não alcançar. A Lua
rege o seu sentir, matreira. Com as suas fases, torna
o poeta descontrolado, aturdido pelas constantes
mudanças de luz. É na noite que o miúdo se encolhe,
se esconde e aguarda a chegada dos monstros do
armário, os monstros que assolam a sua solidão.
A ténue luz que vem lá de fora abrilhanta o medo sujo
e inocente.
Mas o miúdo graúdo acredita que é diferente.
Acredita que é poeta. Acredita no sentimento maior
que aquece o coração do homem, que o torna uno,
completo, inteiro.
O miúdo sonha de noite e o graúdo vive de dia.
A Lua só reflecte luz à noite e durante o dia
apaga-se.
A esfera continua quadrada, com arestas que
impedem o sentimento de circular.