Wednesday, July 20, 2011

Há noites

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Há noites…

há noites em que penso que não penso.

Penso em não pensar em nada.

Mas depois chegam as noites…

as noites em que afinal penso.


Penso em ti, todas as noites.


Nas noites em que não quero pensar em nada.

Nas noites que passam pelo tempo

a ver o tempo passar.

Nas noites em que o tempo não passa.

Há noites que passo a pensar enquanto o tempo vai passando.

Passo-me a pensar no pensamento do tempo.


Há noites que não são noites e ainda assim eu penso!

Há noites que são deveras noites mas eu nunca me canso.

E entretanto as noites passam com o meu pensar;

passam comigo a pensar no passar do tempo.


Há noites em que não me resta mais tempo.

Há noites em que penso no teu passar intemporal;

No tempo em que passaste por mim sem pensar.

Fitei os teus olhos como quem não sente o próprio sentir.


Saí por uns segundos de mim e passei o tempo a olhar-nos.

Passámos os dois pelo tempo antes de juntos nos passarmos.

Friday, July 01, 2011

E porque não?

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E porque não?

Porque não suspender uma qualquer vontade…

pendurá-la bem alto e ficar a olhar para ela,

como quem não sabe o que fazer para concretizá-la.

Porque não sorrir? Deixar mostrar os dentes e surpreender

um qualquer estranho que passe por nós na rua.

Porque não tentar?!

Mostrar ao mundo que o fundo ficou lá atrás, o buraco negro

onde vagueiam os tristes assombrados pela malvadez, pela

insensatez dos corações moles, inebriados que se mantêm fiéis a

si próprios sem saberem andar para frente sem olhar para trás, sem

tropeçar em si mesmos, por si mesmos.

E porque não…

Ficarmos assim, quietos… a relembrar…

a recordar…

aquilo que nos fez felizes, aquilo que nos avassalou de tal forma que…

ficámos avassalados, repetidos na sensação de que não falta nada

que nos falte, não há nada que precisemos. Porque não correr atrás

disso que não sabemos bem o que é mas que desejamos em todas

as horas, todos os minutos e segundos dos nossos sonhos?

Porque não sonhar?

E sonhar alto, sonhar acordados, deitados, embriagados. Sonhar

entusiasmados!

E porque não acreditar?

Porque não pensar que o amanhã será sempre melhor se assim

o quisermos, porque nos esforçámos sem esforço por ser aquilo

que somos. Porque somos sonhadores. Porque somos como somos.

Porque não dizer palavras bonitas…

porque não elogiar alguém e fazer bem aos outros?

E porque não…

Deixarmos de ser egoístas e sermos sim altruístas.

Porque não tentarmos ser artistas?

Desenhar, pintar, cantar, escrever as nossas canções,

declamar os nossos versos e pincelar aquilo que somos

na eternidade de uma obra de arte, da nossa arte.

Desenhar linhas curvas entrelaçadas com linhas rectas,

fazer rabiscos e concretizar raios e coriscos!

Porque não deixarmos de ser ariscos?

E porque não arriscar?

Sermos corajosos, desejar o que desejamos sem medo do que

pode acontecer. Sermos nós a acontecer!

Porque não acontece?

Porque não queremos.

Porque não acreditamos, e porque não arriscamos.

E porque não acabar?

Porque não.

Porque só acaba aquele que ficou sem voz, aquele que nada sabe de nós:

Os sonhadores, os poetas, os envergonhados.

Os campeões, os aldrabões e também os agarrados.

Não vamos esperar!

Vamos observar:

Tudo e todos e tudo e todos ao mesmo tempo,

vamos ver o sol nascer e a lua a dormir. Vamos olhar as

estrelas só porque são estrelas.

Ou então porque são belas, mas vamos olhá-las. Vamos

concordar e discordar, vamo-nos abraçar.

Porquê?

Porque sim.